Arlete Cavaliere (USP), mediadora e Igor Vólguin, palestrante |
Igor Vólguin hipnotiza todos ao colocar lado a lado Tolstói e Dostoiévski
Eis que surge, imponente, nosso terceiro palestrante e, num átimo, canaliza todas as atenções para si. Igor Vólguin, professor titular da Universidade Estatal de Moscou, escritor e pesquisador de renome mundial, possui um discurso envolvente, pautado no grande conhecimento que tem da riquíssima cultura russa. Nesse sentido, ele consegue transmiti-lo como poucos ao percorrer caminhos absolutamente originais e inesperados em sua fala. Por isso, faremos aqui um pequeno relato do que foi dito pelo professor, enfatizando algumas idéias, sem qualquer pretensão, no entanto, de refazer sua trilha singular.
Na comparação entre Tolstói e Dostoiévski, Vólguin ressalta que, “reza a lenda”, existem três categorias de pessoas no mundo: aquelas que leram, aquelas que vão ler e, por fim, as que jamais leram ou vão ler os russos. A partir daí, volta-se para os diários de Tolstói, tão presentes em sua trajetória de vida, agregando um conjunto de textos pessoais e sendo também um recurso forte de auto-educação, ainda que o autor desses diários não estivesse satisfeito com seu protagonista. No círculo pessoal de Tolstói, entre secretários, seguidores e membros da família, 20 pessoas escrevem diários. Já Dostoiévski teria possuído somente um documento desse tipo, uma espécie de diário taquigráfico escrito por sua mulher.
Vólguin conta que Tchekhóv, a despeito de tímido, ansiava por conhecer Tolstói. Um belo dia, chegando à Iásnaia Poliana, o encontrara seminu, apenas com uma toalha enroscada ao corpo, pronto para tomar um banho. O que poderia soar como uma barreira, entretanto, revelou-se como uma oportunidade inigualável. Tolstói convidou-o para o banho e o melhor da conversa se deu quando ambos estavam com a água pelo pescoço. A informalidade inerente ao escritor conquistava a todos. “Quando Tolstói morrer, que tudo vá pro inferno!” – teria proferido Tchekhóv.
Tolstói e Dostoiévski, segundo Vólguin, fazem parte da consciência russa. Se um deles fosse retirado da história do país, por exemplo, essa história seria outra, completamente diferente. Os dois viveram no mesmo espaço histórico, sob o mesmo teto pátrio, ainda que nunca tenham se encontrado. Dostoiévski era sete anos mais velho que Tolstói, e quando ele morreu, 30 anos antes de Tolstói, este se sentiu extremamente abalado, como se uma parte de si mesmo tivesse morrido. “Ele perdeu sua base, ficou mais circunspecto” – salienta Volguin.
Última leitura de Tolstói |
Dostoiévski morre com uma carta de Tolstói, cujo tema é a negação da divindade de Cristo, à beira da cama. Ele pretende responder... E Tolstói foge de Iásnaia Poliana deixando o segundo volume de Os Irmãos Karamazov à cabeceira – e quando a viagem termina em Astapovo, ele pede que Aleksandra lhe traga o livro, ansioso por lê-lo ainda antes que a morte, tão iminente, leve-o.
Vólguin e Anastassia Bytsenko, tradutora. |
Lev Tolstói como peregrino russo, Igor Vólguin |
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