quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O primeiro dia do Seminário

O palestrante Vladímir Tolstói e a mediadora Elena Vássina

Tataraneto de Lev Tolstói, Vladímir Ilítch Tolstói, brinda o público com uma bela palestra sobre as similitudes entre a obra do autor e o cotidiano familiar da linhagem Tolstói 
O público preparado para o início da palestra
Foto: Jana D'Avila


Quem esteve ontem no  CCBB-SP pôde testemunhar um emocionante relato de Vladímir Tolstói sobre a família Tolstói.  Ele, que desembarcou anteontem no Brasil apenas para estar no Seminário, regressando já hoje para Moscou, mostrou que menos do que traços do tataravô, guarda a simplicidade e a afabilidade do grande escritor.
Sua palestra teve como ponto de partida Iásnaia Poliana.  “Lá” – ele disse – “foram escritas todas as obras”.  E diferencia a leitura do leitor comum ou do crítico da leitura das pessoas, entre familiares e conhecidos, que foram próximas ao autor. Estas se reconheceriam nos personagens dos textos de Tolstói – que são, sobretudo, autobiográficos.
Em O Cadáver vivo, por exemplo, o protagonista seria um retrato impecável do filho de Tolstói, Andriéi. Em Anna Kariênina, a inocente Kitty, uma alusão a Sofia jovem (quando se casaram, Sofia tinha 18 anos e Tolstói, 34), enquanto a experiente Dolly seria um reflexo da esposa de Tolstói na maturidade, sofrendo pela morte dos filhos que tanto amava e extremamente preocupada com aqueles que viviam.  Nos primeiros 10 anos de união, Sofia e Tolstói tiveram seis filhos. Tal fato iria ao encontro do estado de Dolly no romance – grávida do sexto filho.
Guerra e Paz, essa epopéia de abrangência sobre-humana, também seria, nas palavras de Vladímir, uma obra de cunho familiar. A linhagem Tolstói estaria ali refletida na família Rostov. Em carta escrita há 150 anos, Tatiana, irmã de Sofia, diria: “Que beleza o início desse romance! Reconheci nele tanta gente!”.  Vladímir ressalta que no salão da casa do escritor em Iásnaia Poliana estão dispostos diversos retratos de membros da linhagem, sendo que um deles se destaca – o retrato do avô de Tolstói, que a todos encara. No romance, essa figura imponente seria o patriarca da família Rostov.
Vladímir fez menção às taças e cálices descritos em Guerra e Paz, que, na realidade, existem na vida real contendo o monograma francês CLV (Conde Lev Tolstói). Essas relíquias seriam usadas até hoje pelos descendentes em festas e ocasiões especiais. A mãe de Tolstói, que o deixara aos dois anos de idade e da qual ele tanto sentira falta por toda a vida, estaria refletida no romance na bela figura da Princesa Maria Bolkonskaia, que, de espiritualidade elevada, vive uma vida de auto-abnegação em meio a figuras santificadas.
 Dentre diversas outras associações entre ficção e realidade, Vladímir reitera que a grande família continua existindo, contabilizando mais de 300 membros ao redor do mundo, salientando que até no Brasil ela está representada. Vassili Tolstói, primo de Vladímir, mora no Rio de Janeiro, onde é casado com uma brasileira. A cada dois anos – conta Vladímir – descendentes de Tolstói se reúnem em Iásnaia Poliana para uma série de celebrações e atividades, orgulhosos de pertencer a uma linhagem que existe desde o século XIV.
Em Iásnaia Poliana, segundo o palestrante, tudo permanece igual. Tudo é conservado exatamente como o escritor deixou antes de partir rumo ao etéreo. Sua biblioteca soma 22 mil livros. Sobre a estaca verde, enterrada em uma ravina próxima à floresta de Zakaz, que, segundo a história de Nikolai, guardaria o segredo que salvaria a humanidade de todos os males, ele diz: “ela ainda não foi encontrada”. Mas adverte que, talvez, o grande legado de Lev Tolstói estaria contido justamente na idéia de que todos nós jamais deixemos de procurá-la enquanto estivermos vivos –  à medida que, claro, estivermos lendo os 90 volumes da reveladora obra do autor.   
O público


Ana Lúcia
Ana Lúcia, formada em engenharia ambiental e fã  de Tolstói, estava interessada em descobrir mais sobre a filosofia pacifista que sustenta a obra do autor. Romance preferido: Anna Kariênina.






Daniela
Daniela, estudante de Letras-Russo da USP: "Me interesso muito pelo assunto e pelos livros que Tolstói escreveu. Estudo na minha pesquisa de Iniciação Científica as relações entre o Tchekhov e o Tolstói.











Diego
Diego, professor de língua russa da UFRJ: "Para mim é uma felicidade estar aqui para ver o trineto de Tolstói e participar deste evento lindo que vai falar sobre a importância dele para a literatura universal".

2 comentários:

Denise Sales disse...

Que trabalho legal, Luiza. Eu, que infelizmente não vou poder comparecer, gostei muito desse relato do primeiro dia e de todas as outras informações.

Luiza Gannibal disse...

Querida Denise! Que maravilha receber sua visita!!! E que pena que não vai poder participar do debate! Estamos sentindo sua falta!!!
Qq coisa, estamos sempre aqui no blog!!!!

Mil beijos!!!
Luiza