quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A tradução no Brasil de Tolstói


Falar de Boris Schnaiderman, Rubens Figueiredo, Tatiana Belinky (na foto abaixo) e Paulo Bezerra é praticamente contar a história da tradução russo-português no país. Esses quatro, devido à experiência e reconhecimento conquistado em anos debruçados sobre textos russos, são os nomes a que todos se reportam quando abordam o assunto, e que, sem dúvida, virão à tona durante o Seminário.



Boris Schnaiderman
Boris Schnaiderman é o maior nome da tradução literária do russo no Brasil, além de ser o maior intérprete dessa cultura. Nascido na Ucrânia em 1917, ano que ficaria tão marcado na história da Rússia, Schnaiderman fundaria o curso de Língua e Literatura Russas na USP em 1960, o qual revisita até hoje, com toda simpatia e humildade, para partilhar seu saber com aqueles que ainda estão engatinhando na matéria. Foi o primeiro a traduzir as obras russas diretamente do russo no país, que antes eram traduzidas do francês sem qualquer parâmetro ou cuidado. Deu a oportunidade ao público brasileiro de ler, assim, não só o “gigante” Tolstói, mas Dostoiévski, Gorki, Bunin, Pushkin, Tchekhov, Boris Pasternack, Isaac Babel, dentre muitos outros. Traduziu, juntamente com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, os afamados (ou difamados) poetas da vanguarda russa, em uma compilação corajosa e bem-sucedida chamada Poesia Russa Moderna, reeditada pela editora Perspectiva em 2001. Ali estão os “malditos” Khliébnikov, Maiakóvski, Aleksandr Blok, Marina Tzvietáieva, etc. , em um esforço de transpor para nossa língua a essência de seus versos. No rastro do mestre Tolstói, Boris relançou, mais recentemente, valendo-se do interesse crescente das editoras pela literatura russa, traduções de A Sonata a Kreutzer, A Morte de Iván Ilitch, Khadji-Murát e Felicidade Conjugal, além de se ater em incontáveis prefácios, apresentações e posfácios. De sua lavra, ele nos brindou com o curto e enfático Leão Tolstói – Antiarte e Rebeldia, uma bela introdução à obra e vida do autor russo lançado nos idos dos anos 80 pela editora Brasiliense. Além de grande professor, tendo formado toda uma geração de eslavófilos, Boris escreveu diversos textos e ensaios teóricos fundamentados no universo literário e histórico russo. Recebeu o Prêmio de Tradução, em 2003, concedido pela Academia Brasileira de Letras.

Paulo Bezerra
Mais recentemente, Bezerra tem se dedicado a traduzir toda a obra de Dostoiévski, especialmente os chamados tijolões do autor, como O Idiota, Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo ou Os Demônios, publicados pela editora 34. Mas este paraibano que se bandeou para Rússia por acreditar em um sonho comunista, voltando de lá de posse da realidade da língua, na qual havia se especializado, traduziria de tudo, da economia à música, da filosofia à literatura: Bakhtin, Tolstói, Anatoli Ribakov, Vigotski, Gogol, Propp, Stanislavski, Lênin e Liermontov são apenas alguns dos nomes que figuram em seu currículo de mais de 30 traduções diretas do russo. De Tolstói, por exemplo, coordenou a tradução de O diabo e outras histórias, orientando as alunas Beatriz Morabito, Beatriz Ricci e Maira Pinto. O belo exemplar, lançado pela Cosac Naify em 2000, também inclui uma contundente apresentação do tradutor.

Rubens Figueiredo
Rubens Figueiredo vem concedendo ao público tolstoiano um presente de valor inestimável: a tradução dos principais “calhamaços” do autor, como Ressureição, Anna Kariênina e Guerra e Paz – este, ao que parece, está no prelo. Muita gente que jamais havia lido Tolstói passou, em virtude dessas traduções, a lê-lo. As robustas edições, lançadas pela Cosac Naify e aparentemente esgotadas, são permeadas de um zeloso rigor técnico e trazem informações para que ninguém se perca nas tramas do autor russo – repletas de patronímicos, nomes, sobrenomes e diminutivos. No exemplar de Anna Kariênina, por exemplo, há uma árvore genealógica e uma lista com o nome e descrição de cada um dos personagens, o que é extremamente útil ao leitor, tenha ele intimidade ou não com o escritor. Rubens Figueiredo é um romancista aureolado duas vezes com o Prêmio Jabuti. Formado pela UFRJ, ele também exibe em seu currículo traduções de Turguêniev (Pais e Filhos), Tchekhov e de outros autores não-russos.

Tatiana Belinky
Ligada especialmente à literatura e ao teatro infanto-juvenil, a russa de São Petersburgo que chegou com 10 anos ao país, ficou bastante conhecida pela belíssima tradução de Almas Mortas, romance inacabado de Nikolai Gogol lançado no Brasil em 1979 pela coleção “vermelha” da Abril Cultural. Quem não se lembra? Quem não o tem em sua estante? Além de outros títulos de Gogol, Tatiana, nascida em 1919, traduziria prolificamente Tchekhov e antologias que reuniriam diversos autores russos. De Nikolai Leskov, por exemplo, autor russo ainda obscuro no Brasil, ela traduziria O Urso e outras histórias; de Dostoiévski, O crocodilo e outras histórias; de Mikhail Zochtchenko, Causos russos, só para citar alguma coisa. De Tolstói, agora reeditado pela editora Manole, com prefácio de Elena Vássina, A Morte de Iván Ilitch e outras histórias, com traduções impecáveis também dos contos Senhor e servo, O prisioneiro do Cáucaso e Deus vê a verdade, mas custa a revelar.




Boris Schnaiderman, o maior nome da tradução russa no país. Fundador do curso de Língua e Literatura Russas da USP, que desencadearia diversas iniciativas na área.

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