quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Ouça a gravação da palestra do Igor Vólguin
Igor Vólguin - Seminário Legado de Tolstoy by fabyuri
Para baixar:
20110916 193247.m4a - 49.2 MB
Agradecemos ao Fabrício, do sensacional blog Falando Russo, pela idéia e pelos retoques finais. :-)
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Terceira noite do Seminário: Vólguin
Arlete Cavaliere (USP), mediadora e Igor Vólguin, palestrante |
Última leitura de Tolstói |
Vólguin e Anastassia Bytsenko, tradutora. |
Lev Tolstói como peregrino russo, Igor Vólguin |
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Segundo dia do Seminário: Pavel Bassinski
Pavel Bassinski (Instituto Gorki), palestrante, e Aurora Fornoni Bernardini (USP), mediadora |
Platéia: no detalhe Igor Volguin e Elena Vássina |
Na segunda noite do Seminário Internacional O Legado de Lev Tolstói para o século XXI, recebemos o professor, pesquisador e escritor russo Pavel Bassinski, que fez uma minuciosa exposição acerca dos últimos anos da vida de Tolstói, quando ele se viu às voltas com as exigências de Sonia e Tchertkov, seu devotado (e encrenqueiro) discípulo, para que ele deixasse um testamento válido relativo a seu legado literário.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
O primeiro dia do Seminário
O palestrante Vladímir Tolstói e a mediadora Elena Vássina |
O público preparado para o início da palestra Foto: Jana D'Avila |
Ana Lúcia |
Daniela |
Diego |
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Entendendo nosso primeiro palestrante: Vladímir Ilitch Tolstói
A família reunida ao redor do então patriarca Lev Tolstói |
Na árvore genealógica da família Tolstói, Vladimir pertence ao tronco que parte diretamente do escritor Lev Nikolaievitch Tolstói, sendo este seu trisavô. Vejamos:
Lev Tolstói (trisavô de Vladímir) ---- Iliá (bisavô de Vladimir) ---- Vladímir (avô de Vladímir) ---- Iliá (pai de Vladímir) ---- Vladímir Ilitch Tolstói (nosso palestrante).
Em 1945, Vladímir voltaria da imigração com seu pai e seu avô. Na época, eles foram os únicos da família a retornarem à Rússia ou URSS, ávidos para, mesmo que lidando com um governo hostil, se restabelecerem no país que tanta história armezanava no interior de suas fronteiras. No decurso dos anos, Vladímir se formou em jornalismo e, nesse bojo, fundou o Museu Iásnaia Poliana, não só para recuperar e divulgar os indícios concretos dos passos do trisavô, mas a fim de, também, reunir todos os descendentes de Tolstói, que hoje somam cerca de 250 em todo mundo e se encontram em festas anuais. A família, cabe dizer, jamais viveu dos direitos autorais da obra de Tolstói, estando em sintonia com tudo aquilo que o escritor não queria: ou seja, que sua herança se tornasse motivo de desavenças de caráter financeiro.
Iliá Tolstói, filho de Tolstói e bisavô de Vladimir |
O Museu também promove o Prêmio Literário Iasnaia Poliana, fundado em 2003 e do qual Pavel Bassinsky, outro de nossos palestrantes, é membro do juri.
Site oficial do Museu Estadual de Iásnaia Poliana
Lembramos que o Seminário "O Legado de Lev Tolstói para o século XXI" tem início amanhã, às 19:30, no CCBB - SP, com palestra de Vladímir Tolstói e mediação de Elena Vássina. As senhas serão distribuídas 1 hora antes do evento. A lotação é de 70 lugares e a entrada é franca. :-)
domingo, 11 de setembro de 2011
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Feliz Aniversário, Tolstói!!!
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
A nova geração da tradução (I)
Por ocasião do Seminário O Legado de Lev Tolstói para o século XXI, fomos conversar com as jovens tradutoras Graziela Schneider e Natalia Quintero, ambas integrantes do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura Russa da USP e duas craques - e "mestres" ou "doutorandas" - no assunto. Recentemente, as duas participaram da tradução de Os últimos dias, publicação da Penguin-Companhia. O compêndio traz trechos dos derradeiros escritos de Tolstói - notadamente os mais inflamados no que tange à religião -, como Uma confissão ou O reino de Deus está em vós, além de contos, artigos, cartas e conteúdo pinçado de seu afamado Diário. A seleção e introdução é de Jay Parini - um literato aficcionado, por sinal, pelos momentos finais da vida e obra de Tolstói (que são, de fato, um capítulo à parte, como Parini mostraria no romance A Ultima Estação); e a coordenação editorial ficou a cargo de Elena Vássina, professora da USP e principal organizadora do Seminário - do qual Graziela e Natalia serão meras espectadoras.
Realizei a primeira tradução de Tolstói com Elena Vássina, da peça “Cadáver Vivo”. Foi uma experiência incrível por vários motivos. Primeiro, a oportunidade de adentrar as profundezas do texto tolstoiano em todas as suas camadas de signos, a sublimidade, a força poética.
Além disso, por ser um texto dramático, traz particularidades muito ímpares. Trata-se de uma linguagem completamente distinta, com uma entonação, um ritmo muito específicos. Temos que manter um olho na confecção da obra, outro no estilo, um no leitor, outro na imanente encenação... não é só que tem de “fluir”, mas, acima de tudo, não pode ser aquele texto forçoso, preso, inanimado.
Por último, sempre fui a favor de trabalhar o texto a quatro olhos, mãos, sentidos... isso permite pontos de vista múltiplos, debate, reflexão, lapidações, e enriquece muito o processo e o fruto... esses encontros e diálogos culminaram com o cotejo comme il faut, líamos o texto russo em voz alta, a tradução em voz alta...
Traduzi recentemente algumas cartas, que fazem parte dos escritos tolstoianos tardios, com um grupo de outras tradutoras, e esse retorno ao escritor, e, ao mesmo tempo, a experiência de um novo Tolstói para mim, o Tosltói memorioso, o teor filosófico, a simplicidade autêntica de suas ideias e ideais, foi outra vez extraordinária...
No momento estou rematando um conto de Tostói, mas é surpresa...
Como você vê a entrada da literatura russa no Brasil? Ainda há muito a ser feito para divulgá-la?
A entrada da literatura russa no Brasil é um processo contínuo...
Costumo “decompor” os tradutores do russo – (trans)portadores da “mensagem” (Texto) da Literatura Russa – em “gerações”... apesar de sua importância histórica no percurso da tradução do russo para o português brasileiro, não vem ao caso comentar traduções indiretas (que, por sinal, continuam acontecendo, por incrível que pareça...)... nosso grande e sempre mestre, iniciador, Bóris Schnaiderman segue nos inspirando e ensinando; no Brasil, existe uma literatura russa antes de Bóris e uma depois: não seria exagero parafrasear Dostoiévski (“Todos nós viemos do Capote de Gógol”) e dizer que “todos nós viemos do trabalho de Bóris”... Nesse mesmo momento Tatiana Belinky também nos brinda com traduções de escritores russos; então temos Paulo Bezerra, Aurora Fornoni Bernardini, Homero Freitas de Andrade, Rubens Figueiredo, Arlete Cavaliere, Noé Silvia, entre outros... que também representam toda uma época de desbravamento; e já há algum tempo surge e se consolida um grupo muito significativo de tradutores como Fátima Bianchi, Denise Regina de Sales, Nivaldo dos Santos, Moissei Mountian, Lucas Simone etc., que tem feito um importante trabalho de pesquisa e apresentação de, digamos, “novos” textos da literatura russa aos leitores brasileiros, além de continuarem a traduzir os cânones. Não posso deixar de mencionar, também, que o círculo de editoras que não apenas dá espaço, mas busca publicar literatura russa está cada vez maior e mais cuidadoso, com belíssimos trabalhos da 34, Cosac & Naify, e outras tantas editoras, como a Globo, a Martins, a Amarylis etc. Hoje várias editoras estão ávidas por literatura russa! Além disso, a Kalinka, editora especializada em literatura de língua russa e do leste europeu tem um trabalho muito esmerado.
Entretanto, no Brasil ainda temos uma visão um tanto restrita em relação à tradução de literaturas “minoritarizadas”; primeiro, porque os textos têm de ser bem conhecidos, já traduzidos para o inglês e/ou francês, dignos de condecorações (prêmios)... segundo, porque há uma relutância em abrir possibilidades de várias traduções de uma mesma obra, em geral por questões de direitos e, assim, uma tendência à exclusividade, o que pode ser uma pena. Várias traduções de uma mesma obra aumentam o espírito crítico, e, portanto, a excelência das traduções, criam diálogos... abrem todo um universo do mundo da língua, da literatura, da tradução.
Nesse sentido, é preciso tomar muito cuidado com “charlatães” e é essencial que se atente para o apuro, a seriedade, e, principalmente, a responsabilidade dos tradutores. É muito importante que haja uma revisão específica, não apenas do português, mas das transposições, para que se percam cada vez menos alusões, entrelinhas... é preciso, de uma vez por todas, considerar o livro um projeto como um todo (escritura, escrito, leitura, tradução, revisão/preparação, projeto gráfico/arte, capa...) e não a tradução como fato isolado e esquecido. A responsabilidade e o dever me lembram de direitos... ainda me espanto quando leio artigos de revistas e jornais que não mencionam o tradutor; e me surpreende que temos de nos contentar com elogios à obra para nos sentirmos lidos, para fingirmos que, de alguma forma, nosso trabalho está sendo contemplado. Precisamos falar disso, não só em nossas rodas de escritores, professores, pesquisadores e tradutores, mas chamar a atenção para o respeito e valorização do tradutor... o tradutor tem deveres e direitos!
Acredito que, apesar dos booms de traduções e de interesse por literatura russa no Brasil, o caminho apenas começou e é infinito a olhos nus. Gosto muito de uma expressão que uma amiga usa: “a literatura russa é um bolo enorme e muito gostoso. Tem fatias para todo mundo”...
Com certeza, uma experiência única. Foi minha primeira tradução do russo, o que significou enfrentar muitas dificuldades, um trabalho muito vagaroso e muito exigente. Ao mesmo tempo, foi um aprendizado de vida pela aproximação a essa faceta particular da vida e da obra de Tolstói, e um motor do crescimento profissional, tanto pelo esforço individual, como pelo trabalho conjunto com meu orientador de mestrado, Prof. Noé Silva, a quem sou profundamente grata, e com muitas outras pessoas invisíveis que, aqui ou no outro lado do planeta, estiveram sempre dispostas a tirar uma dúvida e, com isso, alargaram minha compreensão da cultura, da história e da língua russas. Quero com tudo isso dizer que, ao olhar para trás, mesmo consciente dos desvelos e da insatisfação frequente diante de palavras e passagens que não conseguimos verter apropriadamente, prevalece um sentimento de prazer e de afeto profundo pela obra traduzida e pelo ato de traduzir. Talvez reveja essa tradução e, com os anos e a experiência acumulada, veja nela mais defeitos que virtudes, mas penso que ainda assim, ela terá um valor enorme para mim por tudo o que me ensinou e ainda pode me ensinar. É uma obra da qual não me fastio, não só por ser meu objeto de estudo.
Traduzi alguns outros textos de Tolstói, em sua maioria, de não-ficção. Foi outro trabalho extremamente interessante porque me deu a oportunidade de ver o pensamento tolstoiano em conjunto - como ele se desenvolveu e que coisas permaneceram como essenciais para Tolstói quase até o fim da sua vida. O que era para mim apenas uma impressão, se tornou uma convicção. A coerência entre vida e obra é mais sólida do que se pode pensar ao observar aspectos externos da vida de Tolstói. No curto prazo me interessa trabalhar ainda com parte desse corpus que constituem os textos não ficcionais de Tolstói e ver as possíveis relações entre eles e as obras literárias. Por esse caminho, gostaria também de considerar alguns aspectos formais dos textos não ficcionais. É interessante pensar que há neles certa elaboração artística, mesmo não sendo textos ficcionais. Alguns críticos veem uma linha de enredo nos diários de Tolstói. Pessoalmente, sinto um certo ritmo na prosa tolstoiana. Isso é um campo completamente inexplorado por mim, mas que me impressionou fortemente durante a leitura em russo. O trabalho com Tolstói pode ser infinito. Contudo, gostaria muito de trabalhar com outros autores. Por exemplo, Mikhail Bulgákov foi, por assim dizer, minha primeira paixão russa. Por causa dele comecei a estudar a língua russa e acabei vindo para o Brasil estudar literatura russa.
Tenho enorme vontade de ouvir as palestras de todos os convidados, isso é claro, mas também encontrar mais pessoas que se interessam por Tolstói. Saber sobre as pesquisas que estão em desenvolvimento e convidar pessoas para que se aproximem do universo tolstoiano.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
A tradução no Brasil de Tolstói
Falar de Boris Schnaiderman, Rubens Figueiredo, Tatiana Belinky (na foto abaixo) e Paulo Bezerra é praticamente contar a história da tradução russo-português no país. Esses quatro, devido à experiência e reconhecimento conquistado em anos debruçados sobre textos russos, são os nomes a que todos se reportam quando abordam o assunto, e que, sem dúvida, virão à tona durante o Seminário.
Boris Schnaiderman é o maior nome da tradução literária do russo no Brasil, além de ser o maior intérprete dessa cultura. Nascido na Ucrânia em 1917, ano que ficaria tão marcado na história da Rússia, Schnaiderman fundaria o curso de Língua e Literatura Russas na USP em 1960, o qual revisita até hoje, com toda simpatia e humildade, para partilhar seu saber com aqueles que ainda estão engatinhando na matéria. Foi o primeiro a traduzir as obras russas diretamente do russo no país, que antes eram traduzidas do francês sem qualquer parâmetro ou cuidado. Deu a oportunidade ao público brasileiro de ler, assim, não só o “gigante” Tolstói, mas Dostoiévski, Gorki, Bunin, Pushkin, Tchekhov, Boris Pasternack, Isaac Babel, dentre muitos outros. Traduziu, juntamente com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, os afamados (ou difamados) poetas da vanguarda russa, em uma compilação corajosa e bem-sucedida chamada Poesia Russa Moderna, reeditada pela editora Perspectiva em 2001. Ali estão os “malditos” Khliébnikov, Maiakóvski, Aleksandr Blok, Marina Tzvietáieva, etc. , em um esforço de transpor para nossa língua a essência de seus versos. No rastro do mestre Tolstói, Boris relançou, mais recentemente, valendo-se do interesse crescente das editoras pela literatura russa, traduções de A Sonata a Kreutzer, A Morte de Iván Ilitch, Khadji-Murát e Felicidade Conjugal, além de se ater em incontáveis prefácios, apresentações e posfácios. De sua lavra, ele nos brindou com o curto e enfático Leão Tolstói – Antiarte e Rebeldia, uma bela introdução à obra e vida do autor russo lançado nos idos dos anos 80 pela editora Brasiliense. Além de grande professor, tendo formado toda uma geração de eslavófilos, Boris escreveu diversos textos e ensaios teóricos fundamentados no universo literário e histórico russo. Recebeu o Prêmio de Tradução, em 2003, concedido pela Academia Brasileira de Letras.
Paulo Bezerra
Mais recentemente, Bezerra tem se dedicado a traduzir toda a obra de Dostoiévski, especialmente os chamados tijolões do autor, como O Idiota, Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo ou Os Demônios, publicados pela editora 34. Mas este paraibano que se bandeou para Rússia por acreditar em um sonho comunista, voltando de lá de posse da realidade da língua, na qual havia se especializado, traduziria de tudo, da economia à música, da filosofia à literatura: Bakhtin, Tolstói, Anatoli Ribakov, Vigotski, Gogol, Propp, Stanislavski, Lênin e Liermontov são apenas alguns dos nomes que figuram em seu currículo de mais de 30 traduções diretas do russo. De Tolstói, por exemplo, coordenou a tradução de O diabo e outras histórias, orientando as alunas Beatriz Morabito, Beatriz Ricci e Maira Pinto. O belo exemplar, lançado pela Cosac Naify em 2000, também inclui uma contundente apresentação do tradutor.
Rubens Figueiredo
Rubens Figueiredo vem concedendo ao público tolstoiano um presente de valor inestimável: a tradução dos principais “calhamaços” do autor, como Ressureição, Anna Kariênina e Guerra e Paz – este, ao que parece, está no prelo. Muita gente que jamais havia lido Tolstói passou, em virtude dessas traduções, a lê-lo. As robustas edições, lançadas pela Cosac Naify e aparentemente esgotadas, são permeadas de um zeloso rigor técnico e trazem informações para que ninguém se perca nas tramas do autor russo – repletas de patronímicos, nomes, sobrenomes e diminutivos. No exemplar de Anna Kariênina, por exemplo, há uma árvore genealógica e uma lista com o nome e descrição de cada um dos personagens, o que é extremamente útil ao leitor, tenha ele intimidade ou não com o escritor. Rubens Figueiredo é um romancista aureolado duas vezes com o Prêmio Jabuti. Formado pela UFRJ, ele também exibe em seu currículo traduções de Turguêniev (Pais e Filhos), Tchekhov e de outros autores não-russos.
Tatiana Belinky
Ligada especialmente à literatura e ao teatro infanto-juvenil, a russa de São Petersburgo que chegou com 10 anos ao país, ficou bastante conhecida pela belíssima tradução de Almas Mortas, romance inacabado de Nikolai Gogol lançado no Brasil em 1979 pela coleção “vermelha” da Abril Cultural. Quem não se lembra? Quem não o tem em sua estante? Além de outros títulos de Gogol, Tatiana, nascida em 1919, traduziria prolificamente Tchekhov e antologias que reuniriam diversos autores russos. De Nikolai Leskov, por exemplo, autor russo ainda obscuro no Brasil, ela traduziria O Urso e outras histórias; de Dostoiévski, O crocodilo e outras histórias; de Mikhail Zochtchenko, Causos russos, só para citar alguma coisa. De Tolstói, agora reeditado pela editora Manole, com prefácio de Elena Vássina, A Morte de Iván Ilitch e outras histórias, com traduções impecáveis também dos contos Senhor e servo, O prisioneiro do Cáucaso e Deus vê a verdade, mas custa a revelar.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
"Na Natureza Selvagem" e Tolstói
Tolstói, em face de seu amor ao campo e bastante influenciado por Rosseau, bem como por sua teoria do "bom selvagem", nunca viu o ambiente da cidade com bons olhos. Contos como A morte de Iván Ilitch ou Três Mortes, em parte, resultam dessa sua visão. O camponês seria mais "humano" por estar mais próximo à natureza, enquanto o homem da cidade, a exemplo de Iván Ilitch, é absorvido pela burocracia e tudo em sua vida acaba se transformando em "coisa", em - como diria Marx - objeto reificado.
No filme Into The Wild (No Brasil, Na Natureza Selvagem), lançado em 2007, com direção de Sean Penn e baseado na trajetória verídica de Christopher McCandless, estudante norte-americano que abandona o que entendemos por civilização para viver entrelaçado à natureza, fica evidente o quão pernicioso pode ser o meio urbano.
Já há algum tempo em contato profundo com a natureza e tudo que isso reivindica; bem como desvinculado dos valores comuns à urbe, o aventureiro retorna, por descuido e anônimo, à cidade grande. Quando enfurnado na mata, o rapaz, ávido leitor de Tolstói, Jack London e Henry David Thoreau, torna-se um jorro de vitalidade estóica que cativa o espectador, estando em equilíbrio e confluência com o meio ambiente. À medida que adentra o habitat metropolitano, contudo, ele se converte em só mais um naco na multidão despedaçada, onde as pessoas não se vêem, não se tocam, não se ouvem e a menor menção ao natural cai na armadilha do mercado, cuja gosma produzida narcotiza os sentidos e cria padrões. Nesse não-lugar, ele se torna um número no antebraço, uma estatística no holocausto, um indivíduo espezinhado pela civilização, pela tecnologia, pela burocracia; inepto a encaixar-se em modelos artificiais e removido ao fundo do poço de uma estrutura.
O filme, no entanto, nos alerta para o outro lado da moeda, que também é previsto por Tolstói. Sem a companhia do outro e destituído do conhecimento milenar do "selvagem", McCandless é devorado por aquilo que ainda lhe resta de postiço. Em contos como De que vivem os homens, Tolstói deixaria claro que ninguém vive isoladamente, visto que, para nos matermos vivos, devemos viver para os outros. Deus, assim, teria revelado ao homem não apenas o que lhe é útil, mas o que é necessário também ao outro.
Outros filmes:
Viver (Ikiru) de 1952 - Akira Kurosawa
O enredo do filme do celebrado diretor japonês é baseado na novela A Morte de Iván Ilitch. Nesta, um burocrata encontra o sentido da vida através do processo da morte.
A Ultima Estação (The Last Station) de 2009 - Michael Hoffman
Com roteiro adaptado do romance homônimo de Jay Parini, o filme conta como foram os últimos dias da vida de Tolstói, quando sua mulher atingiu um estado demencial em função do patrimônio literário do marido, entrando em conflito com o mais devotado seguidor de Tolstói, Tchertkov. Nessa trilha, Tolstói fugiria de casa para viver em uma cabana como camponês. Por obra do destino, entretanto, ele acabaria desembarcando na desconhecida Estação Astapovo.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Mini-perfil dos participantes e dia-a-dia
Primeiro Encontro (14.09.2011) às 19:30
Tema: O Universo de L. Tolstói
Palestrante:
Conde Vladímir Ilítch Tolstói: Presidente da Fundação Lev Tolstói, Diretor do museu de Lev Tolstói “Iasnáia Poliána” e trineto de Tolstói. Ele também é jornalista e autor de inúmeros artigos e ensaios sobre Tolstói.
Mediadora e Debatedora: Elena Vássina (Prof. Dra. De Literatura Russa, USP)
Pavel Bassinsky
Segundo Encontro (15.09.2011) às 19:30
Tema: Tolstói, grande humanista.
Palestrante:
Pavel Bassinsky: escritor e crítico literário russo, ganhador de importantes prêmios literários, membro do júri do Prêmio Literário “Iásnaia Poliana”/ Lev Tolstói. Seu último livro Lev Tolstói, uma fuga do paraíso (2010) tornou-se um best seller internacional e está sendo traduzido no Brasil.
Igor Vólguin
Terceiro Encontro (16.09.2011) às 19:30
Tema: Tolstói e a literatura contemporânea.
Palestrante:
Já conhecido pelo público eslavófilo brasileiro por ter participado do seminário sobre Dostoiévski no CCBB, Igor Vólguin é um destacado poeta, escritor e pesquisador russo. Autor de várias coletâneas de poesia e livros sobre a literatura e história russas, como O último ano de Dostoiévski; Anotações históricas (1986); Nascer na Rússia; Dostoiévski e os contemporâneos, vida em documentos (1991); Metamorfoses de poder (1994); A Devolução do bilhete e Paradoxos da consciência nacional (2004). Seu último livro Fugir de todos: Lev Tolstói como peregrino russo (2010) ganhou o prêmio da revista literária “Oktiabr”. Ele também é fundador e presidente da Fundação Dostoiévski, membro do PEN CLUB e professor titular da Universidade Estatal de Moscou Lomonóssov e do Instituto de Literatura Górki.
Mediadora e debatedora: Arlete Cavaliere (Profa Dra da Literatura Russa da USP)
Quarto Encontro (17.09.2011) às 15:00
Tema: Tolstói e tolstoísmo hoje, no Brasil e no mundo / Mesa redonda sobre as questões de não violência, de amor na obra de Tolstói e as traduções de Tolstói no Brasil.
Participantes:
Bruno Gomide (Prof. Dr. De Literatura Russa , USP), Dante Marcello Claramonte Gallian (Prof. Dr UFESP), Elena Vássina (Profa. Dra. De Literatura Russa , USP), Noé Siva (Prof Dr de Literatura Russa, USP)
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
A Sonata a Kreutzer e Beethoven
Até onde eu sei, ele não infernizou apenas a vida do personagem Póznichev de Tolstói, mas a de Alex, protagonista do livro A Laranja Mecânica de Anthony Burgess, que, ao passar por um procedimento bastante peculiar, não consegue mais ouvir sua música preferida - A Nona Sinfonia; e, em solo tupiniquim, a do pianista Menandro Olinda, no brilhante romance Incidente em Antares de Érico Veríssimo. Este entrava em colapso "em vida" diante de Appassionata.
TOLSTÓI no CCBB
O autor de Anna Kariênina e Guerra e Paz, dentre outras obras-primas, possuía um universo muito próprio e muito amplo a um só tempo, que inundou de idéias, no campo político, por exemplo, figuras tão díspares - embora engajadas em mudar o mundo - quanto Gandhi, Martin Luther King ou John Lennon. "Give peace a chance", clamaria o ex-beatle incitado pela tese da não-resistência ao mal pela violência formulada por Tolstói, um conde que amava a simplicidade camponesa e jamais tolerou a guerra.
O blog do Seminário Internacional "O Legado de Lev Tolstói para o século XXI", que irá ocorrer no CCBB - SP do dia 14/09 ao dia 17/09 de 2011, pretende reunir em um só espaço virtual as pessoas que se interessam pela obra, ou gostariam de conhecer esse grande autor, a fim de aproveitar ao máximo as conferências que se realizarão no CCBB e, claro, tirar dúvidas sobre o assunto. Aqui teremos entrevistas, textos e discussões sobre Tolstói e suas obras, além de acompanharmos o dia-a-dia do evento.
O evento contará com as presenças ilustres do Conde Vladímir Tolstói no dia 14, com o tema "O Universo de Tolstói"; Pavel Bassinski no dia 15, com o tema "Tolstói, grande humanista", Igor Vólguin no dia 16, com o tema "Tolstói e a literatura contemporânea". No dia 17, haverá um mesa com palestrantes nacionais ligados à obra do autor, como a tradutora e professora dos cursos de pós-graduação em Literatura e Cultura Russas da USP Aurora Fornoni Bernardini, além de outros membros do corpo docente desta universidade e de outras.
Sejam bem-vindos e divulguem!!!